Menos auto-ajuda, mais conhecimento
Uma das principais dúvidas dos gestores é em relação a motivação do corpo docente. O objetivo deste artigo é esclarecer como se dá o processo de motivação e como acontece a automotivação. Depois de lê-lo, você poderá trabalhar as idéias com sua equipe (sem esquecer que servem para você também).
Motivo + ação
A partir dos anos 40, pelo menos as mentes mais perceptivas, tanto no mundo acadêmico como no organizacional, abandonam a concepção ingênua da vida e do trabalho (incentivos econômicos ou extra - econômicos). Para elas, torna-se evidente que, do ponto de vista prático, é preciso aprofundar os motivos que levam o homem a trabalhar, isto é, as necessidades que busca satisfazer por meio do trabalho.
Conhecendo a motivação, você compreende melhor as relações entre as pessoas. Mas o que é motivação, de quê estamos falando? Motivo é aquilo que move a pessoa para alcançar seus objetivos. Esse impulso à ação é provocado por um estímulo externo que vem do ambiente ou por um estímulo que vem de dentro da pessoa.
A motivação é um processo. Como ocorre? Vamos entender melhor como acontece o processo motivacional.
1 - A pessoa percebe uma carência ou tem uma necessidade.
2 - Essa necessidade gera uma tensão ou motivo.
3 - Em seguida, esse motivo leva a pessoa à ação e à busca da satisfação de sua necessidade.
4 - Satisfação da necessidade.
5 - Equilíbrio interno.
O primeiro passo para a motivação é o autoconhecimento. Para isso, você precisa encontrar as respostas das perguntas que seguem:
• O que mais lhe motiva?
• O que mais o desmotiva interna e externamente?
• O que você tem feito para mudar?
• Quando foi a última vez que você fez exatamente aquilo que gostaria de fazer e no momento que desejava?
• Quantas vezes na última semana você dedicou um momento para pensar em você mesmo?
• Que fatores da sua vida você gostaria de ampliar ou mesmo incorporar?
• Você já analisou se o que está fazendo atualmente é realmente o que gostaria de fazer?
• Você já pensou quais os fatores da sua vida que gostaria de reduzir ou extinguir?
• Então, baseado nas suas respostas, a que conclusão chegou? Você encontrou o seu motivo para a ação entusiástica?
As três dimensões do conhecimento
O conhecimento é único, mas pode-se falar com toda propriedade que apresenta três aspectos ou dimensões. Em suas aplicações, recebem os nomes de especulativo, operativo e afetivo, e determina a capacidade de ação e reação da pessoa frente aos estímulos de todo tipo que lhe chegam.
Essas três dimensões do conhecimento têm sua correspondente aplicação no impulso que se manifesta em nossa vida psíquica e que muitos denominam simplesmente “motivação”.
É ela que move o ser humano a agir para satisfazer suas necessidades de todo o tipo.1 - O especulativo é o que permite à pessoa conhecer os resultados que uma ação provoca (saber que um remédio produzirá certos efeitos no organismo).
2 - O operativo determina a capacidade de um sujeito para realizar uma ação determinada (saber o que fazer para conseguir e tomar o remédio).
3 - O afetivo determina a capacidade da pessoa para avaliar os resultados da ação, isto é, para saber como vai ser afetada pelos resultados (saber como se sentirá com o efeito do remédio).
Motivação sentida - É o impulso que sentimos e que depende do conhecimento; este determina os resultados esperados e o atrativo desses resultados para a pessoa.
Motivação potencial - Corresponde ao impulso que sentiríamos se o nosso conhecimento fosse perfeito, isto é, se conhecessem antecipadamente todos os resultados que a ação terá.
Motivação atual - É a força que nos faz escolher uma ação concreta com base no valor de seus resultados - um valor que o conhecimento especulativo capta - embora este valor não seja atraente devido às limitações do conhecimento afetivo.
Tipos de necessidades do ser humano
Uma pessoa deve prestar atenção aos três tipos de necessidades inerentes a todo ser humano, no momento de decidir o tipo de trabalho que vai desenvolver em sua carreira profissional. Não há dúvida de que não pode esquecer a parte econômica, a remuneração, mas em sua decisão final deve contar, também, com a satisfação pessoal que lhe causará o trabalho a desempenhar e, ainda mais, suas repercussões em outras pessoas próximas ou distantes.
Somente por meio de um perfeito equilíbrio entre essas três realidades é que podem ser alcançados resultados ótimos quanto à satisfação e, por conseguinte, quanto ao rendimento do trabalho e à produtividade social positiva.
Mas nem sempre a pessoa pode satisfazer todas as suas necessidades. E sabe o que pode acontecer? Esta necessidade pode ser frustrada ou até compensada, quer dizer, pode não causar satisfação e ser transferida para outro objeto, pessoa ou situação.
E por que ocorre essa frustração? Ocorre por causa da impossibilidade, mesmo que momentânea, de satisfazer a necessidade.
Essa frustração se manifesta de duas formas: a primeira é mental, através da agressividade, descontentamento, tensão emocional, indiferença. A segunda é fisiológica, afetando o organismo como, por exemplo, insônia, problemas digestivos, cardíacos e outros.
Em outras situações, a necessidade não é satisfeita, nem frustrada. Então o que acontece? A substituição pela satisfação de outra necessidade diminui a frustração de uma necessidade que não pode ser satisfeita.
É importante saber que a motivação é cíclica. Sabe o que significa? Quando uma necessidade é atendida e satisfeita, um processo de motivação termina...Mas será que acaba? De maneira alguma. O indivíduo identifica uma nova necessidade e imediatamente um novo processo de motivação se inicia!
Numa organização, o quê motiva as pessoas no trabalho?
• condições de trabalho adequadas;
• desafios;
• novas oportunidades;
• orgulho do próprio trabalho;
• reconhecimento;
• ser ouvido;
• ser tratado como pessoa / respeitado como profissional;
• ser tratado de modo justo;
• sensação de ser útil;
• ser aceito como é.
Automotivação
Mihaly Csikszentmihalyi é um psicólogo americano, autor de uma importante teoria sobre motivação, mais especificamente automotivação. Sua obra vem servindo de referência aos mais importantes pesquisadores nas áreas de educação e lazer. Sua teoria foi publicada em 1975 e é chamada por ele próprio de Flow.
Flow significa fluir. Essa teoria procura desvendar os aspectos essenciais da automotivação. Segundo o autor, jogadores – como os jogadores de xadrez – costumam viver experiências notáveis de automotivação, quando dedicam boa parcela de suas vidas ao jogo, muito embora saibam que raríssimas vezes alguém consegue viver disso ou mesmo ser reconhecido por essa capacidade. A mesma experiência é também vivida por esportistas e artistas. Os primeiros chegam a saltar de pára-quedas, praticar enduros na selva, ralis no deserto e escalar montanhas sem equipamento pelo simples prazer que essas ações lhes dão.
Os outros devotam largas parcelas de seus dias sobre uma tela, contemplando-a, pincelando-a, desenvolvendo técnicas ou então se debruçam sobre uma pedra, buscando uma forma escondida, talhando e talhando...
Todas essas pessoas vivem uma experiência de automotivação intensa, tão intensa que algumas chegam a comprometer a própria subsistência e até mesmo a existência, quando se arriscam em extremo em suas atividades. Segundo Csikszentmihalyi, "quando uma pessoa age porque seu comportamento é motivado pelo prazer que ela encontra nesse comportamento em si, ela aumenta sua autoconfiança, contentamento, e sentimento de solidariedade com os outros; se o comportamento é motivado por pressões ou recompensas externas, ela pode experimentar insegurança, frustração, e um certo senso de alienação.”
Numa época em que a psicologia está desenvolvendo meios para controlar o comportamento mediante implantes eletrônicos, drogas, programas de modificação comportamental, e todo um armamento composto de técnicas invasivas, é vital que se preserve o entendimento da dimensão ativa e criativa desse comportamento automotivado. Foi identificado, através de pesquisas, um padrão de características vividas e relatadas por todas as pessoas absorvidas em suas atividades. Dessa forma, fluir significa:
• Oportunidade para a ação.
• Atenção centrada em um campo limitado de estímulos.
• Sentimento de competência e de controle.
• Objetivo e feedback claro e imediato.
• Fusão de ação e consciência: transcendência das fronteiras do ego.
Esclarecidos alguns aspectos da motivação, pensamos em algumas alternativas para o profissional da educação desenvolver a autoconfiança e o autodomínio, assim como manter-se motivado, apesar dos reveses da vida e das cobranças institucionais.
• Tenha consciência da importância da profissão que você escolheu.
• Adquira, aperfeiçoe ou desenvolva suas competências, praticando-as diariamente.
• Tenha fé em sua competência no trabalho, agindo de forma a evidenciá-la e desenvolvê-la.
• Conheça, pesquise bem o que vai ensinar, o tema que vai trabalhar.
• Fale com firmeza e convicção sobre o assunto.
• Encare com serenidade, mas com profissionalismo também, os questionamentos dos alunos, por mais complexos ou ingênuos que possam parecer. Todos nós temos impaciências e desconfortos.
• Tenha e manifeste um espírito compreensivo e seja tolerante com as fraquezas, incertezas e dúvidas dos alunos.
• Mantenha sempre o domínio emocional para poder manter o domínio da situação. O professor que se irrita fácil e freqüentemente com os alunos perde em conceito. Pode perder alunos e o emprego.
• Seja realista com uma dose de otimismo e veja sempre o lado bom do aprendizado das coisas, situações e pessoas. O otimista acredita. O pessimista reclama. O realista age.
• Organize sua vida particular de modo a evitar conflitos afetivos. Se casado, faça com que o cônjuge compreenda o valor de sua profissão e carreira e colabore para sua disposição mental e energia. Se solteiro, consiga a mesma compreensão das pessoas com quem convive e interage.
• De qualquer forma, tenha uma vida metódica e não pratique excessos que debilitem o físico e o mental, drenando energia.
Aprendizagens possíveis
Motivação é um processo interno de cada indivíduo. Apesar de não termos o poder de motivar outras pessoas, visto que motivação é interna e pessoal, temos o poder de estimular as pessoas com quem convivemos e de ajudá-las a descobrir as próprias necessidades.
Conseguimos isso com um elogio, uma conversa, uma palavra, uma aula bem planejada e realizada.
Luiz Carlos Moreno é pedagogo, habilitado em Administração; Supervisão e Orientação Educacional. Pós-graduado em Administração da Educação; Didática do Ensino Superior; Gestão Estratégica e Qualidade. Professor de Administração de Recursos Humanos, Comportamento Organizacional; Gestão da Qualidade; Treinamento e Desenvolvimento. Coordenador do curso superior de Gestão da Qualidade e Segurança no Trabalho no Centro Universitário Barão de Mauá. Consultor de desenvolvimento humano (aprendizagem; educação; comportamento; conhecimento e inteligência).
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário